O Sound Forge é um dos softwares mais usados para edição de áudio, e tem se destacado não só pela sua enorme capacidade e estabilidade, mas também pela intuitividade. Ele permite gravar e editar áudio, produzir loops, efetuar análise de espectro, restaurar áudio, processar efeitos, e muitas outras coisas.
A versão 8 mantém tudo o que já era muito bom, e adiciona ainda mais ferramentas, como o CD Architect. Além disso, foram incorporados dois recursos muito solicitados pelos usuários: o suporte a plug-ins VST e a drivers ASIO.
Apesar da proliferação de softwares para manipulação digital de áudio, inclusive inúmeros produtos com capacidade para gravar múltiplas pistas, o Sound Forge há cerca de dez anos continua sendo o mais popular para PC/Windows, tanto entre profissionais quanto entre amadores.
As principais razões desse indiscutível sucesso são a sua estabilidade e a praticidade de uso. Criado por programadores que conhecem a fundo a plataforma PC, e que aprenderam a “tirar leite de pedra” na era jurássica do Windows, o Sound Forge consegue oferecer alto poder de processamento e complexidade sem perder a facilidade de uso. Não é à toa que a Sony investiu milhões de dólares na aquisição da Sonic Foundry, há cerca de dois anos atrás, e felizmente preservou o padrão de qualidade da linha de produtos daquela empresa.
O Sound Forge 8 foi lançado em março, e nossa avaliação foi feita em cima da versão 8.0 Build 53, disponível no site da Sony Media Software para experimentar por 30 dias. Neste artigo, apresentaremos os principais recursos do software, e destacaremos as novidades que foram incorporadas na versão 8.
Visão Geral
O Sound Forge é um editor e processador de áudio que manipula arquivos em estéreo ou mono, e pode funcionar sozinho, como editor/processador, ou acoplado como plug-in DirectX sobre outro software que tenha suporte a esse tipo de recurso (ex: Cakewalk Sonar).
Graças a suas inúmeras funções, o Sound Forge pode ser indicado para diversos tipos diferentes de manipulação de áudio, tais como masterização, pós-produção para vídeo, sounddesign para jogos, edição de amostras para samplers, restauração, perícia criminal (análise de voz), e, obviamente, processamento de áudio para produção musical em estúdios de gravação.
Para rodar o Sound Forge 8 a Sony recomenda, pelo menos, um computador PC com processador de 500 MHz, 128 MB de memória RAM, 150 MB de espaço no disco rígido. O software funciona com Windows 2000 ou XP (infelizmente, você terá que abandonar seu velho 98!). É preciso ter também uma unidade de CD-ROM para instalação do software (se você quiser gravar CDs, terá que ter um gravador de CD).
Obviamente, se você quiser ouvir o áudio terá que ter uma interface apropriada instalada no Windows. Nesse quesito o Sound Forge agora é polivalente, pois aceita qualquer dispositivo de áudio disponível, desde o som “sarapa” on-board da placa-mãe, até as interfaces profissionais mais sofisticadas. A grande novidade é o suporte a driver ASIO. Este formato de driver vem sendo a preferência da maioria dos profissionais, graças à menor latência do fluxo de áudio e à comprovada estabilidade. Esta é uma boa notícia para proprietários de hardware da Digidesign, que não podiam trabalhar com o Sound Forge diretamente com suas interfaces. Outra novidade é a possibilidade de monitoração do sinal de entrada.
A instalação do software é fácil e não requer qualquer configuração especial (o Windows deve ter o DirectX 8 instalado). Para instalar o Preset Manager é preciso ter instalado no Windows o .NET Framework, disponível gratuitamente. A Sony disponibiliza atualizações diretamente pela Internet, bastando conectar o próprio Sound Forge ao site da empresa.
O pacote do Sound Forge inclui agora o CD Architect, um software poderoso para gravação de CDs, com inúmeros recursos que não existem no Nero e outros aplicativos populares que existem por aí. Além disso, vários outros recursos, que outrora eram comercializados separadamente, também fazem parte do Sound Forge (Batch Converter, Spectrum Analysis, Acoustic Mirror). Falaremos mais sobre eles.
Assim como os demais softwares de edição de áudio, a janela principal do Sound Forge mostra o material de áudio representado graficamente no tempo (forma-de-onda). Nesta janela, pode-se marcar trechos, inserir pontos de referência (markers), e até mesmo fazer edições básicas de corte/colagem, usando as teclas de atalho universais para isso (Ctrl+C, Ctrl+V, etc). A imagem do áudio na janela pode ser ampliada ou reduzida ao gosto do usuário, permitindo ver (e editar graficamente) a onda, amostra por amostra. Pela quantidade deinformações que se pode ter na tela, é recomendável usar um monitor de 17″ com resolução de 1024×768.
Os controles de transporte estão disponíveis sob a forma de botões (barra de ferramentas no rodapé da janela de áudio), e também através das teclas do computador (ótimo para acesso imediato). E é possível reconfigurar todas as funções das teclas de atalho, conforme a conveniência do usuário. Nesta versão foi incluído o recurso de scrub, um controle que permite posicionar o material de áudio no ponto desejado “movendo-o” lentamente (para frente ou para trás) enquanto se ouve o áudio passando (como nos gravadores de fitas magnética). Esse procedimento pode ser feito com o mouse ou pelo teclado do computador.
Você pode ter várias janelas de áudio abertas simultaneamente e, dependendo da capacidade do seu computador, poderá ouvir o áudio de uma janela enquanto o Sound Forge processa algo em outra janela.
O processamento do áudio conta com diversas funções e efeitos, e você também pode incorporar ao software todos os seus plug-ins preferidos, pois agora o Sound Forge, além do suporte a plug-ins DirectX, também aceita plug-ins VST.
A qualidade do áudio sempre foi um dos pontos fortes do Sound Forge, e para isso ele permite trabalhar com resolução de até 64 bits e taxas de amostragem de até 192 kHz. Obviamente, as resoluções acima de 24 bits só podem ser usadas para edição, pois não são suportadas pelos dispositivos de áudio atuais.
O Sound Forge pode importar e exportar o áudio numa grande variedade de formatos, incluindo os mais usados para compactação (MP3, RA, WMA), onde o usuário pode escolher o nível de qualidade, de acordo com a taxa de transferência desejada.
Quem trabalha com áudio para vídeo encontrará os recursos necessários para gravação, edição e processamento de trilha sonora. O software pode abrir vídeo digital nos formatos usuais (AVI, QT, MOV, etc) e permite trabalhar com monitor de vídeo externo. Para quem prefere trabalhar com o áudio sincronizado à maquina de vídeo, o Sound Forge pode sincronizar através de MIDI Time Code (com suporte a todos os formatos de código de tempo).
Recursos para todas as necessidades
Sendo um software “polivalente”, é de se esperar que o Sound Forge disponha de muitos recursos diferentes. Vejamos então alguns deles.
Em termos de efeitos de áudio, existem cerca de 40 tipos diferentes, como reverb, chorus, delay, flanger, distorção, wah, etc. Todos esses processamentos permitem configurar os valores de diversos parâmetros, e vários deles podem ser automatizados, isto é, o usuário pode determinar como os ajustes no efeito vão variar no decorrer da execução do áudio. Além disso, os efeitos – e a maioria dos outros processamentos – podem ser avaliados em tempo-real, através do botão de Preview. Para aumentar ainda mais a eficiência na edição, existe também o Plug-in Chainer, um quadro onde se pode encadear simultaneamente até 32 plug-ins de processamento (DirectX e VST) para atuar em tempo-real sobre o arquivo de áudio. Esse recurso funciona como se fosse um rack de efeitos, onde o usuário pode ligar ou desligar qualquer processamento, ajustar os diversos parâmetros de cada um, enquanto ouve imediatamente o resultado. A configuração do Plug-in Chainer é memorizada para cada janela de áudio, e é toda restaurada automaticamente ao se iniciar uma nova sessão do software.
Outra facilidade é que em cada função de processamento do Sound Forge já existem várias opções pré-programadas (presets) que o usuário pode experimentar, antes de ficar “futucando” os controles.
Os recursos de equalização e manipulação de dinâmica são bem completos. Existem três opções de EQs: gráfico, paramétrico e paragráfico. O EQ gráfico pode ser ajustado com 10 ou 20 bandas, ou através de um gráfico de envelope de freqüências. O ganho de cada banda pode ser ajustado desde – até +24 dB. O EQ paramétrico pode atuar como “low-shelf”, “high-shelf”, “band-pass” ou “band-notch”, todos eles com total liberdade de ajuste de freqüência ou largura de banda. O EQ paragráfico oferece quatro filtros paramétricos com ajustes de freqüência, largura de banda e ganho, e mais dois filtros shelf (low e high), com ajustes de freqüência e ganho.
Nos processadores de dinâmica, estão disponíveis as opções mais convencionais de compressor, gate, limiter, etc, todos com a possibilidade de ajuste gráfico da curva de atuação. E há também um processador multi-bandas, que permite a manipulação discriminada da dinâmica dentro de determinada faixa do espectro, o que possibilita correções sofisticadas do tipo “de-esser”, por exemplo.
Outro processamento interessante é o Pan/Expand, que ajuda a melhorar muitas gravações antigas e, dependendo do material original, permite ampliar a imagem estereofônica.
Apesar de dispor de ótimos reverbs e outros processamentos, e ainda poder usar plug-ins (DirectX ou VST) de outros fabricantes, o Sound Forge oferece uma ferramenta poderosíssima, que é o Acoustic Mirror. Ele permite utilizar “assinaturas acústicas”, isto é, as características das alterações que ambientes ou dispositivos efetuam sobre um som original. Para isso, basta obter a resposta a impulso (IR) de um determinado recinto (ou equipamento) e aplicá-la ao material de áudio que se quer processar. A Sony oferece uma variedade de opções de IR, mas o usuário também pode capturar a resposta acústica (IR) específica de uma sala, estúdio ou dispositivo de efeito, e utilizá-la no Acoustic Mirror.
A função Pitch Shift permite alterar a afinação do áudio para cima ou para baixo, em passos de semitom com ajuste fino (centésimos de semitom), podendo-se optar se o processamento irá ou não alterar também a duração (andamento). Este processamento é complexo e oferece métodos diferentes, otimizados para cada tipo específico de material de áudio que se quer transpor (música, voz, instrumento solo, etc).
Para quem precisa avaliar qualitativamente a composição do áudio, o Sound Forge oferece o Spectrum Analysis, um analisador de espectro que utiliza de FFT (Fast Fourier Transform). Este processamento antes era oferecido à parte, como plug-in, mas agora está incorporado ao software. O gráfico principal do Spectrum Analysis mostra a envoltória de amplitude de todo o espectro de freqüências do material de áudio, e com ele é possível, dentre outras coisas, comparar formantes de instrumentos ou vozes, por exemplo. O espectro do áudio também pode ser analisado na forma de “sonograma”, um gráfico das freqüências (eixo vertical) no tempo (eixo horizontal), onde as amplitudes das freqüências são avaliadas por cores.
Quer saber o quanto a compactação MP3 reduz o conteúdo da sua música predileta? Basta comparar no Sound Forge os espectros do material original e do material compactado. O Spectrum Analysis é também uma ótima ferramenta para análise criminal de gravações (“grampos”), que infelizmente estão cada vez mais comuns em nosso país.
O processamento de Time Stretch é de grande utilidade para ajustar trilhas sonoras ou locuções dentro do tempo do vídeo, e também para ajustar trechos ao se montar loops de áudio para serem usados por outros softwares, como o ACID ou o Sonar, por exemplo. O processamento do Time Stretch também pode ser otimizado conforme o tipo de material (música, fala, etc).
Com tantas opções de processamento, às vezes é difícil se lembrar qual foi o plug-in usado em determinado trabalho. Para facilitar as coisas, a Sony incluiu uma ferramenta que permite organizar seus plug-ins no quadro FX Favorites, onde o usuário define quais são os seus processamentos preferidos, que passam a fazer parte de um menu do software.
O Sound Forge pode ler e escrever em diversos formatos diferentes de arquivos, e para facilitar a manipulação desses formatos existe o Bit-depth Converter, que pode reduzir a resolução de bits otimizando a qualidade pela aplicação de “dithering” e processos de redução de ruído, com opções diferentes e adequadas a cada caso.
Para a “limpeza” de áudio deteriorado, o Sound Forge dispõe de ferramentas básicas que permitem melhorar razoavelmente a qualidade de gravações antigas ou obtido de mídias de qualidade inferior. Os processamentos de Find/Repair permitem encontrar e eliminar clics e pops existentes em gravações vindas de discos de vinil, enquanto o Audio Restoration é uma função que integra processamentos para eliminar clics e ruídos em geral.
Para processos de masterização, o software oferece o Wave Hammer, que integra um compressor clássico e mais um estágio para maximização de nível. O compressor pode detectar o nível pelo pico ou pela média RMS, com opções inteligentes de ataque e release, além de oferecer uma opção de saturação suave (“warm”) para situações em que a alta compressão possa vir a causar distorção.
O Sound Forge pode gravar o áudio diretamente em CD-R, usando a unidade de gravação disponível no computador. Mas para ampliar essa função, a Sony agora está incluindo no pacote do Sound Forge o consagrado software CD Architect, com inúmeras facilidades que não existem nos softwares de gravação convencionais que acompanham os gravadores.
Outros recursos disponíveis no Sound Forge são a possibilidade de processar em lotes (Batch Converter), isto é, efetuar o mesmo tipo de processamento em vários arquivos. Isso é muito bom quando se tem, por exemplo, várias músicas copiadas de fita cassete para restaurar, usando o mesmo processo de equalização.
Para quem domina programação e deseja incrementar o software, é possível escrever rotinas de processamento, usando o Script Editor, e também incorporar rotinas escritas em JScript, VBScript, C#, e ainda rotinas compiladas como DLL.
Conclusão
Este artigo procurou sintetizar os recursos principais do Sound Forge 8. São muitas funções e opções, e para que pudéssemos abordar tudo em detalhes seria preciso uma série de artigos.
O Sound Forge continua sendo uma excelente opção para profissionais e amadores, pela quantidade de ferramentas de edição e processamento e pela facilidade de uso. A versão 8 traz melhorias e incorpora recursos bastante interessantes para vários tipos de aplicações dentro do áudio.
É um software intuitivo, estável, e com qualidade sonora inquestionável, e mesmo com tantos recursos profissionais, tem um preço relativamente acessível (US$ 299 nos EUA). Certamente continuará sendo o produto mais popular da sua categoria.
Texto publicado na revista Música & Tecnologia em junho de 2005